Opinião

05 fev 21 | 16h30

Novo Normal, ensaio da superficialidade sentimental

Novo Normal, ensaio da superficialidade sentimental
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O mundo foi pego de surpresa no final do ano de 2019 com a notícia do surgimento do coronavírus na China, mas tão logo percebemos que não era algo pontual, não se tratava de uma epidemia com foco somente em Wuhan, pelo contrário, devido ao alto índice de transmissibilidade e agressividade do vírus, constatamos, em meio a um monte de informações desencontradas e até desinformação que o coronavírus provocaria uma pandemia global, como de fato provocou.


Condição essa, que trouxe uma alteração sem precedentes no curso de nossas vidas. A pandemia provocou dor, agonia e sofrimento em grande escala. Ceifando vidas, proporcionando prejuízos econômicos, causando demissões de milhares de trabalhadores, mostrando que sempre haverá espaço para o ego, especialmente no campo político, na ciência por exemplo, houve avanços, especialmente com a corrida mundial pelo imunizante contra o coronavírus.


Mas, fato é que a pandemia acabou nos abarcando em uma mesma condição, digo de fragilidade diante do vírus, pois até pouco tempo atrás não tínhamos um tratamento específico, um medicamento indicado, muito menos um imunizante contra o vírus. Hoje graças a Deus, a vacina joga luz sobre o caos, porém nós, que pensávamos viver no ápice da globalização, aqui me refiro principalmente a da conectividade, civilidade e liberdade, nos encontramos em uma condição, a de rendição completa, especialmente no início da quarentena, do isolamento social.


E essa situação acabou gerando sentimentos diversos em cada um de nós, sentimentos que iam do pânico, a ansiedade, ao estresse, medo e incertezas, e claro, como consequência todos acabamos em um momento ou outro desenvolvendo uma comoção, uma espécie de consciência coletiva do amor pelo humano, pelas pessoas, óbvio resultado das reflexões e constatações da realidade ora vivida, por consequência começamos a emanar uma espécie de empatia, que se traduziria no termo, O NOVO NORMAL, porém, será mesmo? Ou foi apenas um ensaio da superficialidade sentimental?


E não é difícil entender o porquê da expressão “superficialidade sentimental”, bastou as pessoas perceberem que o maior risco é para idosos e pessoas com comorbidades, que muita gente perdeu o medo do vírus e o pior o respeito e foi para a rua, promovendo aglomerações, festas e superlotações de ambientes noturnos e outras cenários e lugares que propiciam a circulação do vírus, em nome de “uma saúde mental” prejudicada durante os períodos de isolamento social.


Arthur Schopenhauer, filósofo Alemão do século XIX dizia que o ser humano é movido pela vontade. Vontade como essência da subjetividade. E a vontade irracional de retornar as rotinas pré-pandemia, fizeram com que os números de casos de Covid-19 disparassem, com que os hospitais ficassem novamente lotados e que muita gente inocente, que suscetível ao vírus, morresse pela falta de empatia de alguns.


Essa vontade de voltar ao normal nos expôs não somente ao vírus, mas ao ridículo enquanto seres humanos, afirmo em letras garrafais, NÃO HAVERÁ NOVO NORMAL, não, enquanto não houver uma reciclagem de valores do próprio ser humano. A humanidade passou por condições e situações de impacto global não como este da pandemia do coronavírus, mas similares e até piores, e no enteando não mudamos, podemos lembrar da gripe espanhola, também conhecida como gripe de 1918, foi uma vasta e mortal pandemia do vírus influenza. De janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infectou uma estimativa de 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial na época, que dizimou cerca de 50 milhões de pessoas em todo mundo e não mudamos.


Passamos por duas grandes guerras, da morte de Franz Ferdinand (herdeiro do trono Austro Húngaro) em Sarajevo que foi o estopim para a primeira guerra mundial com saldo de mais de 17 milhões de mortes de civis e militares, até o suicídio de Adolf Ritler e por consequência o fim da segunda guerra mundial, que deixou aproximadamente 60 milhões de mortes, e não mudamos, o ser humano teve certamente ao longo desses adventos, momentos em que se deparou com esses sentimentos de dor e profunda reflexão sobre os valores da vida humana e certamente na profundeza das suas elucubrações deve ter tido a certeza haveria uma “aurora do novo ser humano”, mudado diante do caos que propiciou o maior momento de reflexão e valorização da humanidade, mas infelizmente não mudamos, somos ainda individualistas, egoístas, materialistas e prepotentes, não houve tal aurora. 


Aos céticos do vírus, do uso das máscaras, da vacina, do isolamento social, aos descrentes da ciência e os formadores de teorias conspiratórias não me venham com historinhas de novo normal especialmente nas redes sociais.


Não sou um completo pessimista com relação ao ser humano, a pandemia deixa como exemplo, pessoas que se desdobraram para dar o seu melhor diante da condição que nos encontramos, outro exemplo são bravos guerreiros da saúde, médicos, enfermeiros, técnicos e todos os profissionais que não mediram esforço para combater o vírus e salvar o maior número de pessoas, sou sim um entusiasta, um otimista e solidário com quem valoriza a vida, o esforço e sabe respeitar e fazer sua parte, mesmo que seja só ter empatia por algum momento.


Adriel Gonçalves
Cotidiano

05 fev 21 | 16h30 Por Adriel Gonçalves

Novo Normal, ensaio da superficialidade sentimental

Novo Normal, ensaio da superficialidade sentimental

O mundo foi pego de surpresa no final do ano de 2019 com a notícia do surgimento do coronavírus na China, mas tão logo percebemos que não era algo pontual, não se tratava de uma epidemia com foco somente em Wuhan, pelo contrário, devido ao alto índice de transmissibilidade e agressividade do vírus, constatamos, em meio a um monte de informações desencontradas e até desinformação que o coronavírus provocaria uma pandemia global, como de fato provocou.


Condição essa, que trouxe uma alteração sem precedentes no curso de nossas vidas. A pandemia provocou dor, agonia e sofrimento em grande escala. Ceifando vidas, proporcionando prejuízos econômicos, causando demissões de milhares de trabalhadores, mostrando que sempre haverá espaço para o ego, especialmente no campo político, na ciência por exemplo, houve avanços, especialmente com a corrida mundial pelo imunizante contra o coronavírus.


Mas, fato é que a pandemia acabou nos abarcando em uma mesma condição, digo de fragilidade diante do vírus, pois até pouco tempo atrás não tínhamos um tratamento específico, um medicamento indicado, muito menos um imunizante contra o vírus. Hoje graças a Deus, a vacina joga luz sobre o caos, porém nós, que pensávamos viver no ápice da globalização, aqui me refiro principalmente a da conectividade, civilidade e liberdade, nos encontramos em uma condição, a de rendição completa, especialmente no início da quarentena, do isolamento social.


E essa situação acabou gerando sentimentos diversos em cada um de nós, sentimentos que iam do pânico, a ansiedade, ao estresse, medo e incertezas, e claro, como consequência todos acabamos em um momento ou outro desenvolvendo uma comoção, uma espécie de consciência coletiva do amor pelo humano, pelas pessoas, óbvio resultado das reflexões e constatações da realidade ora vivida, por consequência começamos a emanar uma espécie de empatia, que se traduziria no termo, O NOVO NORMAL, porém, será mesmo? Ou foi apenas um ensaio da superficialidade sentimental?


E não é difícil entender o porquê da expressão “superficialidade sentimental”, bastou as pessoas perceberem que o maior risco é para idosos e pessoas com comorbidades, que muita gente perdeu o medo do vírus e o pior o respeito e foi para a rua, promovendo aglomerações, festas e superlotações de ambientes noturnos e outras cenários e lugares que propiciam a circulação do vírus, em nome de “uma saúde mental” prejudicada durante os períodos de isolamento social.


Arthur Schopenhauer, filósofo Alemão do século XIX dizia que o ser humano é movido pela vontade. Vontade como essência da subjetividade. E a vontade irracional de retornar as rotinas pré-pandemia, fizeram com que os números de casos de Covid-19 disparassem, com que os hospitais ficassem novamente lotados e que muita gente inocente, que suscetível ao vírus, morresse pela falta de empatia de alguns.


Essa vontade de voltar ao normal nos expôs não somente ao vírus, mas ao ridículo enquanto seres humanos, afirmo em letras garrafais, NÃO HAVERÁ NOVO NORMAL, não, enquanto não houver uma reciclagem de valores do próprio ser humano. A humanidade passou por condições e situações de impacto global não como este da pandemia do coronavírus, mas similares e até piores, e no enteando não mudamos, podemos lembrar da gripe espanhola, também conhecida como gripe de 1918, foi uma vasta e mortal pandemia do vírus influenza. De janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infectou uma estimativa de 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial na época, que dizimou cerca de 50 milhões de pessoas em todo mundo e não mudamos.


Passamos por duas grandes guerras, da morte de Franz Ferdinand (herdeiro do trono Austro Húngaro) em Sarajevo que foi o estopim para a primeira guerra mundial com saldo de mais de 17 milhões de mortes de civis e militares, até o suicídio de Adolf Ritler e por consequência o fim da segunda guerra mundial, que deixou aproximadamente 60 milhões de mortes, e não mudamos, o ser humano teve certamente ao longo desses adventos, momentos em que se deparou com esses sentimentos de dor e profunda reflexão sobre os valores da vida humana e certamente na profundeza das suas elucubrações deve ter tido a certeza haveria uma “aurora do novo ser humano”, mudado diante do caos que propiciou o maior momento de reflexão e valorização da humanidade, mas infelizmente não mudamos, somos ainda individualistas, egoístas, materialistas e prepotentes, não houve tal aurora. 


Aos céticos do vírus, do uso das máscaras, da vacina, do isolamento social, aos descrentes da ciência e os formadores de teorias conspiratórias não me venham com historinhas de novo normal especialmente nas redes sociais.


Não sou um completo pessimista com relação ao ser humano, a pandemia deixa como exemplo, pessoas que se desdobraram para dar o seu melhor diante da condição que nos encontramos, outro exemplo são bravos guerreiros da saúde, médicos, enfermeiros, técnicos e todos os profissionais que não mediram esforço para combater o vírus e salvar o maior número de pessoas, sou sim um entusiasta, um otimista e solidário com quem valoriza a vida, o esforço e sabe respeitar e fazer sua parte, mesmo que seja só ter empatia por algum momento.