Agronegócio

25 ago 14 | 10h15 Por Rádio Aliança

Aumento no consumo mundial de carne abre oportunidades ao Brasil

Demanda por proteína animal irá crescer em ritmo maior na próxima década

Aumento no consumo mundial de carne abre oportunidades ao Brasil
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Líder mundial na exportação de carne, o Brasil é um dos principais países credenciados a saciar o apetite por proteína animal de mercados asiáticos e africanos na próxima década. O crescimento da população em centros urbanos, aliado ao aumento de renda dos trabalhadores, fará com que a demanda por aves, bovinos, suínos e ovinos cresça em ritmo maior do que a por produtos agrícolas, de agora até 2023, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). 

Com grandes áreas de terras e recursos hídricos, a agropecuária brasileira tem potencial e tecnologia para fornecer boa parte da produção adicional necessária para atender a mercados que passaram a buscar uma alimentação mais nobre, após melhorarem de vida.

—  O índice de insegurança alimentar no mundo vem diminuindo a cada ano, com milhões de pessoas saindo da linha da pobreza e passando a consumir carne, leite, ovos e derivados —  ressalta Gustavo Chianca, representante assistente da FAO no Brasil. 

Conforme o relatório Perspectivas Agrícolas 2014-2023, divulgado no mês passado em Roma, 75% da produção agropecuária adicional a ser consumida no mundo será suprida por países da Ásia e da América Latina. Maior exportador de carne bovina e de aves, o Brasil é a menina dos olhos dos compradores internacionais.

—  O Brasil está muito bem posicionado. E aproveitar a oportunidade significa aumentar a produtividade e também mostrar ao mundo uma produção sustentável —  avalia Chianca. 

A procura mundial por carnes irá sustentar preços firmes no mundo, com possibilidade de chegar a níveis recordes. Mercados produtores, como o Rio Grande do Sul, serão beneficiados com esse aumento de consumo. No ano passado, as exportações brasileiras de aves, bovinos e suínos somaram mais de US$ 16,5 bilhões.

—  A Região Sul é o celeiro da proteína animal no país —  destaca Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal. 

Na pecuária de corte, ainda com volumes pequenos destinados à exportação, o Rio Grande do Sul tem na genética e na qualidade da carne trunfos para se beneficiar. Nesta semana, a agropecuária gaúcha ganha evidência com o início da 37ª Expointer, uma das principais feiras do setor. O evento, no parque Assis Brasil, em Esteio, começa no próximo sábado, atraindo olhares de dentro e fora do país. 

—  Para aumentar a produção de carne será necessária maior quantidade de grãos e, consequentemente, mais insumos. É um eixo de crescimento e desenvolvimento que poderemos aproveitar —  avalia Antônio da Luz, economista da Federação da Agricultura do Estado.


Frango estará no topo do consumo até 2023

Em 10 anos, as aves devem desbancar os suínos e se tornar a carne mais consumida no mundo, conforme estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Com 1,6 milhão de toneladas por ano, o Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor do país - com 15% do volume. Atrás do Paraná e de Santa Catarina, nessa ordem, o Estado perdeu a liderança na última década em razão da insuficiência na produção de milho
.
—  A falta do suprimento impede o avanço mais dinâmico da atividade. O Paraná tem milho abundante na porta de casa —  compara José Eduardo dos Santos, diretor-executivo da Associação Gaúcha da Avicultura (Asgav).

Para alimentar a produção gaúcha de suínos e de frangos, é preciso importar pelo menos 2 milhões de toneladas do grão de outros Estados. A safra gaúcha é de pouco mais de 5 milhões de toneladas. Os principais produtores do grão são Mato Grosso e Paraná.

Com um sistema de sanidade avícola e biossegurança respeitado no mundo todo, o Brasil vende carne de frango para 155 países —  com destaque para Arábia Saudita, União Europeia, Japão e Hong Kong. A carne suína é exportada para cerca de 70 países, com Rússia e Hong Kong como principais destinos. Com 10 frigoríficos de aves habilitados à exportação, o Rio Grande do Sul responde por 18% dos embarques nacionais. 

Produtor de frangos em Nova Bréscia, Marcos Senter, 48 anos, quase dobrou a capacidade de produção desde o ano passado. Até então com três aviários convencionais, investiu R$ 600 mil em uma estrutura com sistema "dark house" (casa escura, em inglês). 

—  A tecnologia diminuiu o tempo de abate, com engorda mais rápida. Os custos com mão de obra também caem — explica o produtor, que trabalha com ajuda da mulher, Andreia, 40 anos, e dos filhos Marcelo, 19 anos, e Marciano, 17 anos.

O novo aviário fez a Granja Senter saltar de 60 mil aves por lote para 109 mil unidades. Os animais com 1,5 quilo e 30 dias de vida são entregues à BRF de Lajeado e destinados ao mercado externo, que prefere frangos menores. 

—  Agora tenho 15 frangos por metro quadrado. Antes eram no máximo 12 — conta Senter, que trabalha para exportação há 10 anos, quando passou a investir na granja.

 

Produtividade da pecuária de corte é um desafio para o Estado

Com um rebanho bovino de 208 milhões de cabeças, o dobro dos Estados Unidos, o Brasil tem produção menor do que os americanos. O dado é suficiente para quantificar o quanto é possível aumentar a eficiência da pecuária brasileira, maior exportadora de carne de gado do mundo. Além de produzir mais por hectare, o país ainda precisa que o seu sistema sanitário ganhe confiança em mercados mais exigentes. Das 9 milhões de toneladas de carne produzidas por ano, o Brasil exporta menos de 20% desse volume para mais de 170 destinos. 

— Tivemos evolução na questão sanitária, mas ainda estamos fora de grandes mercados — destaca Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

A Europa, por exemplo, exige rastreabilidade individual do rebanho. No Brasil, o índice de animais rastreados é inferior a 1%. Outra ponto a avançar, conforme Sampaio, são os acordos comerciais para exportação, que dependem de articulações do Mercosul.

Com predomínio de raças britânicas no campo, o rebanho gaúcho é desfavorecido quando o assunto é volume de produção. O rebanho bovino no Rio Grande do Sul é de cerca de 13 milhões de cabeças.

— Há anos não aumentamos nosso rebanho, que vem perdendo cada vez mais espaço para os grãos. Por isso, a saída é aumentar a produtividade — ressalta Gedeão Pereira, vice-presidente da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul).

Pecuarista em Aceguá, na fronteira com o Uruguai, Ronaldo Jacintho Cantão, 55 anos, dobrou a produtividade em 15 anos ao investir em pastagens adubadas, na definição de raça e no manejo adequado. De lá para cá, a produção de 80 quilos por hectare saltou para 166 quilos por hectare. A média no Rio Grande do Sul é de 70 quilos por hectare.

— Não é um trabalho que se faz de um dia para o outro. Comecei com 15 hectares de pastagem adubada e hoje são mais de 500 hectares — explica o pecuarista, que administra a Estância Formosa ao lado dos irmãos Flávio, 60 anos, e Aloísio, 42 anos. 

Há 10 anos, os irmãos investiram em rastreabilidade e hoje têm todo o rebanho angus de 1,7 mil cabeças voltado à cria, recria e terminação identificado. A produção é vendida para frigoríficos exportadores que oferecem até 8% a mais pelos animais.

— A rastreabilidade é um coringa, ajuda na valorização do produto e na gestão da propriedade — acrescenta Cantão.

 

Fonte: Zero Hora

25 ago 14 | 10h15 Por Rádio Aliança

Aumento no consumo mundial de carne abre oportunidades ao Brasil

Demanda por proteína animal irá crescer em ritmo maior na próxima década

Aumento no consumo mundial de carne abre oportunidades ao Brasil

Líder mundial na exportação de carne, o Brasil é um dos principais países credenciados a saciar o apetite por proteína animal de mercados asiáticos e africanos na próxima década. O crescimento da população em centros urbanos, aliado ao aumento de renda dos trabalhadores, fará com que a demanda por aves, bovinos, suínos e ovinos cresça em ritmo maior do que a por produtos agrícolas, de agora até 2023, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). 

Com grandes áreas de terras e recursos hídricos, a agropecuária brasileira tem potencial e tecnologia para fornecer boa parte da produção adicional necessária para atender a mercados que passaram a buscar uma alimentação mais nobre, após melhorarem de vida.

—  O índice de insegurança alimentar no mundo vem diminuindo a cada ano, com milhões de pessoas saindo da linha da pobreza e passando a consumir carne, leite, ovos e derivados —  ressalta Gustavo Chianca, representante assistente da FAO no Brasil. 

Conforme o relatório Perspectivas Agrícolas 2014-2023, divulgado no mês passado em Roma, 75% da produção agropecuária adicional a ser consumida no mundo será suprida por países da Ásia e da América Latina. Maior exportador de carne bovina e de aves, o Brasil é a menina dos olhos dos compradores internacionais.

—  O Brasil está muito bem posicionado. E aproveitar a oportunidade significa aumentar a produtividade e também mostrar ao mundo uma produção sustentável —  avalia Chianca. 

A procura mundial por carnes irá sustentar preços firmes no mundo, com possibilidade de chegar a níveis recordes. Mercados produtores, como o Rio Grande do Sul, serão beneficiados com esse aumento de consumo. No ano passado, as exportações brasileiras de aves, bovinos e suínos somaram mais de US$ 16,5 bilhões.

—  A Região Sul é o celeiro da proteína animal no país —  destaca Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal. 

Na pecuária de corte, ainda com volumes pequenos destinados à exportação, o Rio Grande do Sul tem na genética e na qualidade da carne trunfos para se beneficiar. Nesta semana, a agropecuária gaúcha ganha evidência com o início da 37ª Expointer, uma das principais feiras do setor. O evento, no parque Assis Brasil, em Esteio, começa no próximo sábado, atraindo olhares de dentro e fora do país. 

—  Para aumentar a produção de carne será necessária maior quantidade de grãos e, consequentemente, mais insumos. É um eixo de crescimento e desenvolvimento que poderemos aproveitar —  avalia Antônio da Luz, economista da Federação da Agricultura do Estado.


Frango estará no topo do consumo até 2023

Em 10 anos, as aves devem desbancar os suínos e se tornar a carne mais consumida no mundo, conforme estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Com 1,6 milhão de toneladas por ano, o Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor do país - com 15% do volume. Atrás do Paraná e de Santa Catarina, nessa ordem, o Estado perdeu a liderança na última década em razão da insuficiência na produção de milho
.
—  A falta do suprimento impede o avanço mais dinâmico da atividade. O Paraná tem milho abundante na porta de casa —  compara José Eduardo dos Santos, diretor-executivo da Associação Gaúcha da Avicultura (Asgav).

Para alimentar a produção gaúcha de suínos e de frangos, é preciso importar pelo menos 2 milhões de toneladas do grão de outros Estados. A safra gaúcha é de pouco mais de 5 milhões de toneladas. Os principais produtores do grão são Mato Grosso e Paraná.

Com um sistema de sanidade avícola e biossegurança respeitado no mundo todo, o Brasil vende carne de frango para 155 países —  com destaque para Arábia Saudita, União Europeia, Japão e Hong Kong. A carne suína é exportada para cerca de 70 países, com Rússia e Hong Kong como principais destinos. Com 10 frigoríficos de aves habilitados à exportação, o Rio Grande do Sul responde por 18% dos embarques nacionais. 

Produtor de frangos em Nova Bréscia, Marcos Senter, 48 anos, quase dobrou a capacidade de produção desde o ano passado. Até então com três aviários convencionais, investiu R$ 600 mil em uma estrutura com sistema "dark house" (casa escura, em inglês). 

—  A tecnologia diminuiu o tempo de abate, com engorda mais rápida. Os custos com mão de obra também caem — explica o produtor, que trabalha com ajuda da mulher, Andreia, 40 anos, e dos filhos Marcelo, 19 anos, e Marciano, 17 anos.

O novo aviário fez a Granja Senter saltar de 60 mil aves por lote para 109 mil unidades. Os animais com 1,5 quilo e 30 dias de vida são entregues à BRF de Lajeado e destinados ao mercado externo, que prefere frangos menores. 

—  Agora tenho 15 frangos por metro quadrado. Antes eram no máximo 12 — conta Senter, que trabalha para exportação há 10 anos, quando passou a investir na granja.

 

Produtividade da pecuária de corte é um desafio para o Estado

Com um rebanho bovino de 208 milhões de cabeças, o dobro dos Estados Unidos, o Brasil tem produção menor do que os americanos. O dado é suficiente para quantificar o quanto é possível aumentar a eficiência da pecuária brasileira, maior exportadora de carne de gado do mundo. Além de produzir mais por hectare, o país ainda precisa que o seu sistema sanitário ganhe confiança em mercados mais exigentes. Das 9 milhões de toneladas de carne produzidas por ano, o Brasil exporta menos de 20% desse volume para mais de 170 destinos. 

— Tivemos evolução na questão sanitária, mas ainda estamos fora de grandes mercados — destaca Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

A Europa, por exemplo, exige rastreabilidade individual do rebanho. No Brasil, o índice de animais rastreados é inferior a 1%. Outra ponto a avançar, conforme Sampaio, são os acordos comerciais para exportação, que dependem de articulações do Mercosul.

Com predomínio de raças britânicas no campo, o rebanho gaúcho é desfavorecido quando o assunto é volume de produção. O rebanho bovino no Rio Grande do Sul é de cerca de 13 milhões de cabeças.

— Há anos não aumentamos nosso rebanho, que vem perdendo cada vez mais espaço para os grãos. Por isso, a saída é aumentar a produtividade — ressalta Gedeão Pereira, vice-presidente da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul).

Pecuarista em Aceguá, na fronteira com o Uruguai, Ronaldo Jacintho Cantão, 55 anos, dobrou a produtividade em 15 anos ao investir em pastagens adubadas, na definição de raça e no manejo adequado. De lá para cá, a produção de 80 quilos por hectare saltou para 166 quilos por hectare. A média no Rio Grande do Sul é de 70 quilos por hectare.

— Não é um trabalho que se faz de um dia para o outro. Comecei com 15 hectares de pastagem adubada e hoje são mais de 500 hectares — explica o pecuarista, que administra a Estância Formosa ao lado dos irmãos Flávio, 60 anos, e Aloísio, 42 anos. 

Há 10 anos, os irmãos investiram em rastreabilidade e hoje têm todo o rebanho angus de 1,7 mil cabeças voltado à cria, recria e terminação identificado. A produção é vendida para frigoríficos exportadores que oferecem até 8% a mais pelos animais.

— A rastreabilidade é um coringa, ajuda na valorização do produto e na gestão da propriedade — acrescenta Cantão.

 

Fonte: Zero Hora