Opinião

Qual seria o impacto que a pandemia proporcionaria se tivesse ocorrido há algumas décadas atrás?

por: Adriel Gonçalves


Se buscarmos na história resposta para essa questão, vamos lembrar que houve uma pandemia de escala global, em linhas gerais, muito parecida com a do coronavírus, foi a gripe espanhola que ocorreu há mais ou menos 100 anos atrás. Porém vamos combinar que ficar em quarentena, hoje em dia, com um pote de pipoca nas mãos vendo Netflix e tomando cerveja é muito mais fácil que lutar contra o vírus influenza da gripe espanhola, num período que não se tinha informação adequada a respeito do vírus, uma medicina que não contava com os recursos que hoje conta, padrões sanitários inadequados, escassez de alimentos entre outras dificuldades inerentes à época, resultado, que a pandemia que durou 2 anos de 1918 a 1919, deixou mais de 20 milhões de mortos pelo mundo todo e pelo menos 600 milhões de infectados.


Nessa comparação com outros momentos de crises que a humanidade enfrentou, como as grandes guerras e pandemias, vamos acabar percebendo que sim, estamos em condição privilegiada de luta, não estou banalizando o vírus, pelo contrário até porque faço essa afirmação no pior momento da pandemia, hospitais lotados e com filas de espera por leitos, recordes diários de mortes, lockdown em diversas cidades entre outros dados entristecedores que essa pandemia da causa.

O fato que as soluções que norteiam nossas ações diárias, e vão desde fazer negócios via internet, a pagar contas pelo smartphone, pedir comida em casa, e principalmente no contexto de entretenimento, pois é inegável que passar por uma quarentena sem assistir filmes ou a sua série favorita, seria de um tédio sem tamanho, assim como seria deprimente ficar sem qualquer contato com amigos e familiares que se dá geralmente via redes sociais, Whats app, Facebook e Instagram. Inegavelmente a tecnologia remodelou nossos comportamentos e hábitos, por consequência facilitando o enfrentamento das dificuldades, como é o caso da pandemia do coronavírus.


Durante as adversidades que pautaram a história da humanidade, as pessoas lutaram para salvar o que lhes era, ou parecia ser mais precioso, fosse a liberdade, a honra, a terra ou própria vida com as condições que cada época oferecia. Perceba, passar por uma guerra por exemplo, é muito distante de encarar uma pandemia, parece óbvio, mas exige uma compreensão analítica. O indivíduo que se vê no meio de uma guerra, tinha muitas vezes, a casa destruída, passava fome, perdia entes queridos e amigos, perdia-se tudo, em certas ocasiões até a dignidade em nome de bandeiras e valores que muitas vezes nem se sabia quais eram.


Possuímos atualmente todo o conforto que a contemporaneidade proporciona, água encanada e energia elétrica, (ou a maioria possuí), moradia, segurança, internet, alimentos disponíveis para todos, embora nem todos tenham a mesmas condições de compra, há informação referente e relevante disponível sobre o vírus e como se prevenir quanto ao contágio. Não há o pânico de uma guerra a torturar-nos dia pós dia, como não há a eminência de uma bomba cair sobre sua cabeça. Então se as condições de enfrentamento do vírus são menos frágeis que de crises outrora, sejam elas pandêmicas ou bélicas, a pergunta que fica é, porque é tão difícil o entendimento que cada um de nós tem um papel preponderante nessa luta, em especial para evitar a propagação do vírus?


 Ao analisar pelo comportamento das pessoas, temos a impressão que se perdeu realmente o medo do vírus, mesmo com tudo que está acontecendo, e como consequência, se age como se age, com displicência e dando de ombros para a pandemia, propiciando mais contágio, mais vidas perdidas, mais crise econômica e mais tristeza e dor. Lembro então da afirmação de Jean-Paul Sartre, filósofo francês, do início do século XX: “Não há necessidade de grelha, o inferno são os outros”. O problema é o outro, sempre o outro, mas até quando vamos nos negar a assumir a parte que nos cabe nessa história, assumir a nossa responsabilidade?


O que quero dizer é, quando uma crise sanitária acontecia no passado ou quando uma guerra era declarada a única coisa que você poderia fazer é escolher um lado e lutar com unhas e dentes por uma bandeira e pela vida, com as condições que tinha nas mãos, e vamos combinar que hoje em dia tá tão mais fácil fazer isso. Aqui e agora, diante da pandemia, o gesto épico e heroico que você pode fazer, não é empunhar um rifle e abater milhares de inimigos, mas seguir um simples protocolo de segurança, usar máscara ao sair à rua, álcool gel nas mãos e principalmente evitar aglomerações, evitar festas clandestinas e não propagar a vírus. Essa é uma garantia irrefutável que mesmo por um momento estaremos sendo pró ativos na luta contra o coronavírus, sendo bravos soldados cumpridores da sua missão, enquanto aguardamos a vacina e a retomada de "uma vida normal".